Lidar com o contexto onde está inserido um projeto é parte essencial do exercício da arquitetura, seja negando ou incorporando os elementos preexistentes e as condicionantes do entorno nas propostas. Apesar dessa constante, entender o que há em volta como atuante direto nas decisões de desenho e organização do espaço vai além de simplesmente considerar boas vistas, ventilação natural ou orientação, trata-se de enxergar essas condições como agentes ativas nos projetos, isto é, como coautoras.

Os casos em que essa prática se faz mais notável são provavelmente aqueles que pensam os elementos da natureza nesse papel atuante, e essa é a postura adotada por alguns escritórios como verdadeiro partido inicial para o desenho dos espaços.

Casa no condomínio Alphaville Lagoa dos Ingleses. Desenvolvimento de projetos de casas para os condomínios da região metropolitana de Belo Horizonte. Arquiteta Claudia Bartelle

Explorar as relações entre corpo e arquitetura não significa, necessariamente, mimetizar tradições inauguradas no Renascimento que estabeleciam parâmetros de harmonia, geometria e proporção naturais como referências a serem seguidas. Trata-se muitas vezes de incorporar ao pensar projetual a noção de natureza como força de ação permanente que traz consigo características que podem ser exploradas de forma muito rica na composição da arquitetura, como  texturas, cores, temperaturas e contrastes. Isso se torna  evidente em alguns projetos que se valem de sua implantação muito específica para estabelecer essas conexões compositivas.

A principal questão colocada nesses casos é adotar um tipo de relação mais específico do que se conduz em outras iniciativas que lidam com a natureza, como é o caso da arquitetura biomimética ou dos projetos sustentáveis. Trata-se, sobretudo, de colocar a arquitetura e aqueles que a produzem sob uma perspectiva mais ampla, de conjunto e contato com interferências e oportunidades conferidas pelo meio.

A compreensão de que o lugar é um elemento presente e ativo, que dita dinâmicas, faz incorporar características, orienta o desenho e, portanto, torna-se dado de projeto, ajuda a criar a noção de que a arquitetura não pode ser vista de forma restrita, como elemento isolado, mas sim como forma de interação, reação e mediação entre as funções e necessidades cotidianas e o espaço que elas ocupam.

*Casa no condomínio Alphaville Lagoa dos Ingleses. Desenvolvimento de projetos de casas para os condomínios da região metropolitana de Belo Horizonte. Arquiteta Claudia Bartelle

fonte: ArchDaily